quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Insuportável a voz da injustiça. Não apenas por ser injusta, mas por se caracterizar pelo cinismo, pela hipocrisia, pela perversão, pela perfídia, pela sordidez. Ainda mais insuportável se torna a narrativa quando ela é eivada de metáforas decorativas, citações desconexas, apartes cômicos e sem graça. Isso, por si só, se torna uma tortura quando os guardiões da justiça são eles mesmos agentes atuantes daquilo que denunciam como obra de outros. A certeza de que possuem poder ilimitado os transforma em seres com descomunal arrogância, empáfia, pouco sutil aversão à verdade dos fatos conhecidos por todos, porque transmitidos ao vivo e a cores, e à lógica inefável que jaz agora aos pés dos mistificadores desfigurada, irreconhecível, desmembrada como uma deusa grega destituída da sua sabedoria ao ser esquartejada, decapitada e estuprada com toda crueldade e vilania dos que fazem o mal dizendo estarem fazendo o bem. Quisera eu fosse estúpido o suficiente para não perceber as falácias e artimanhas contidas nas mal escritas linhas e entrelinhas de uma peça eivada de erros gramaticais e termos impróprios para um julgamento supremo. Principalmente, tentando parecer severo. Ser condenado por quem está condenando não devolve aos réus sua liberdade. Mas mantém pelo menos sua dignidade pois um réu injustamente condenado é mais digno do que quem o condena podendo tê-lo inocentado com base na Constituição, nas leis, na realidade objetiva corroborada objetivamente pela lógica. A trama do golpe foi desvendada, os golpistas de fato venceram. Os que foram acusados pelo crime que seus julgadores praticaram serão condenados. Não é apenas uma injustiça praticada. São duas injustiças que não se anulam, mas se reafirmam.  Lula venceu. Só falta enquadrar o juíz Moro que o condenou à prisão. Ainda veremos este dia chegar depois do que vimos acontecer hoje no tribunal inquisitorial, peça central do regime de exceção. Vitor Hugo deve ter se revirado no túmulo sendo citado para dar luz a este caso sombrio. Vitor Hugo é aquele autor francês que fez um homem da lei, Javert, saltar para a morte incapaz de substituir a lei pela justiça. Somente quem tem honestidade e integridade inegociáveis se recusa a praticar um ato injusto, imoral, mesmo que encontre justificativas legais para condenar quem deveria ser inocentado ou pior, sequer deveria ser julgado. No caso presente que assistimos por longas e extenuantes horas, nem era esse o dilema. A lei e a justiça foram violadas em nome de uma crença ideológica e da serventia a um homem perigoso que foi tirado das catacumbas exatamente por quem agora encarcera seu arqui-inimigo e rival.
Roberto Rachewsky 🔰
Imagem: cena de Les Misérable


 

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