O Rio acordou com o barulho dos blindados antes mesmo do canto dos pássaros. O som que deveria anunciar o sol, anunciou a guerra. Nas manchetes, fotos e números. No morro, choro e corpos. Cada tiro disparado encontra um destino certo, em ambos os lados. O tráfico já não é o morro. O tráfico é um sistema.
Tem CNPJs, lojas, advogados, marketing, clientela fiel e um exército recrutado pela miséria. 100 mortos. 100 vagas abertas.
Enquanto isso, o Estado fardado carrega a culpa alheia nas costas.
Há quem diga que a polícia mata. Há quem esqueça que ela também morre. E morre três vezes. Na bala do fuzil do tráfico, no descaso do Governo Federal e na narrativa da caneta da imprensa.
O Rio de Janeiro é a cidade onde o menino sonha em ser traficante antes de sonhar em ser bombeiro. Onde a mãe já nem ora pela paz, ora apenas para que o seu filho volte pra casa.
E o resto, o país assiste. Com a mesma passividade de quem muda de canal. Como se aquela guerra fosse só mais um filme.
Mas a guerra é real. E o tráfico, esta bala que explode na cabeça da dignidade nacional, não nasceu do nada. Foi cultivado, alimentado, romantizado, protegido, incentivado e glamourizado.
O Estado, talvez, tenha aprendido tarde demais e chegou a um ponto em que não dá mais pra “pacificar”. O confronto direto virou a única forma de combate. E o povo, esse que paga o preço, continua no meio do fogo cruzado. Entre a defesa e o ataque, sem saber se fica, se corre, se vive ou se morre. Só sabe de uma coisa: o tráfico só vai acabar quando Comunidade, Estado e União resolverem enfrentá-lo. Mas, talvez, nisso não aconteça nunca, porque, de algum modo, os três parecem depender dele.
E no fim, o Rio não precisa de mais heróis mortos.
Precisa da vergonha e coragem dos políticos vivos.
Cleonio Dourado ❤

Perfeitamente "cirúrgico"!!!!
ResponderExcluir😢😢😢