Eu nunca tinha ouvido falar do Charlie Kirk.
Igualmente, por óbvio, também não conhecia a Iryna Zarutska, que era uma moça comum, vivendo na difícil tarefa do recomeço de vida. Um ma taram em público, no ato da fala. A outra, em público, no metrô. Duas mor tes de forma tão banais e sem sentido, que deixaram meu pensamento à mil. Cheguei à conclusão que o ódio dirigido a eles pelos seus algozes não veio de quem eles eram, mas do incômodo que causaram por serem diferentes. O incômodo do assa ssino se ver diante de um espelho que não o reflete. Porque Charlie, com todos os seus excessos, não fazia mais do que refletir uma imagem que muitos preferiam ocultar e lutar contra, por isso não o aceitávam. Porque Iryna, com toda a sua meiguice refletia uma imagem que muitos tentam alcançar e não conseguem, por isso a combatem.
É curioso pensar como uma grande parcela da sociedade atual, que se diz muito democrática, não consegue lidar e nem suportar o contraditório. É o problema do espelho que, quando verdadeiro, não mente e a primeira reação de quem não suporta a própria imagem é querer destruí-lo com a maior raiva e violência possível. E foi o que fizeram. Destruíram o que não sabem entender.
Destruíram o que não suportam ver. A verdade pouco importa, o que importa para esses irracionais é eliminar quem a mostra.
Seja a verdade uma palavra. Seja a verdade apenas a aparência.
Me pergunto, incomodado, se o que mata mais é a bala do atira dor, a faca do assa ssino, o discurso de quem os inflama ou a covardia doente de uma ideológia que os fez aprender a não suportar mais olharem para si mesmos?
No fim, não só o bravo Charlie e a doce Iryna foram mor tos. Morremos todos como sociedade. A cada dia mais incapazes de suportar a imagem que o outro reflete.
Cleonio Dourado 🖤

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