Acho que aprendemos muito pouco com a pandemia.
Ficamos trancados, com medo de morrer, sonhando com a liberdade da rua. Juramos que, quando tudo passasse, seríamos melhores, mais humanos, mais gratos. Era um pacto íntimo e silencioso. Todos prometendo seres humanos melhores se escapassem. Mas, ao que parece, o que sobrou das quarentenas não foram pessoas mais renovadas e, sim, mais intolerantes e ressentidas. Saio na rua e não vejo gente sorrindo e abraços. A rua está cheia de gente com a cara de cu. A vida voltou ao normal, mas o normal tá esquisito, raivoso e emburrado. No trânsito, no mercado, na fila do banco e até nas redes sociais, só se vê gente com a cara amarrada, com o pavio curto pronto pra explodir. Estamos vivendo uma epidemia de gente mal educada.
É como se cada pessoa estivesse de saco cheio das próprias frustrações e a qualquer pretexto, abre para despejar toda a sua raiva no mundo. Não há mais espaço para simpatia, uma palavra generosa, para o reconhecimento do esforço alheio, para a ajuda, gentilezas, bons dias e obrigados. O instinto atual de milhares desses doentes é brigar, disputar, diminuir, refutar e reclamar.
Na pandemia o medo era o invisível. Hoje, o medo é o outro.
Um outro que não precisa tossir para contaminar, basta existir. É o vizinho que liga o som alto meia noite, mas se você for pedir pra abaixar corre o risco de levar um tiro. É o motorista que te fechou, mas se você sequer olhar pra ele, ele joga o carro em cima do seu. É o desconhecido que anda com uma faca procurando motivo pra furar alguém a qualquer hora e qualquer lugar. O surto agora não é biológico. É social, moral, emocional e político.
Um surto que não vem de laboratórios, mas de corações arrebentados pelas ideologias, disputas, dívidas, pressa, solidão, desamor, ódio e violência. E também pela comparação com o outro conhecido ou não e pela incapacidade de aceitar quem é e a vida que tem. E fica a pergunta: Sobreviver a uma pandemia foi mais fácil do que sobreviver a essa epidemia? O vírus da vez, também, mata e ainda destrói relações, confiança e qualquer resquício de esperança num mundo e num humano melhor.
Sobrevivemos à pandemia. Agora precisamos sobreviver aos surtados soltos aos milhares por aí.
Cleonio Dourado ✔

Tenho q confessar q concordo plenamente com o Cleonio...!!! Enxergo essa "atualidade" da mesma forma.... :( Mas, continuo crendo q algo de mto bom virá mais a frente.... Se não fosse essa minha "teimosia", em crer em um Mundo melhor, acho q já teria pirado!!!!
ResponderExcluirÉ verdade. As vezes desanimo mas a força da fé me faz continuar crendo que Deus nos dará um mundo melhor. Boa noite e que continuemos sem esmorecer. Um beijo
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